Evangelização no Mercado Pós-Moderno
Extraído e
adaptado do livro Evangelização no Mercado Pós-Moderno, de
Robson Ramos, publicado pela Editora Ultimato.
Um dos meus melhores amigos — que não se considera cristão — me disse que às vezes se surpreende pensando que, se Deus existe, não deve gostar da banalização que é feita do seu nome. Um conhecido, colunista da mais lida revista semanal do país, reclamou da superexposição do sagrado em nossa cultura. “Menos deus, por favor” foi o seu desabafo.1 É um alerta. Não é à toa que o segmento dos não-religiosos está entre os que mais cresceram na década de 90. Qualquer reflexão ou ação evangelizadora, transcultural ou não, deve levar em consideração as mudanças que estão acontecendo ao nosso redor e que afetam a todos nós, assim como as instituições, sejam elas eclesiásticas ou não, nas quais estamos envolvidos. Vivemos num mundo de extremas transformações, que afetam todos os aspectos da nossa existência. Temas como pós-modernidade e globalização podem não evocar sentimentos muito confortáveis. Mas não podemos ignorar os seus efeitos, se desejamos nos manter responsavelmente engajados no projeto de levar o evangelho até os confins da terra. A influência que este momento extraordinário exerce sobre o modo como vivemos, trabalhamos e comunicamos as Boas Novas de Jesus Cristo representa um desafio singular para a Igreja. Mais do que isso, está reestruturando a vida daqueles que pretendemos alcançar com o Evangelho, assim como as instituições formadoras de opinião.
Um dos meus melhores amigos — que não se considera cristão — me disse que às vezes se surpreende pensando que, se Deus existe, não deve gostar da banalização que é feita do seu nome. Um conhecido, colunista da mais lida revista semanal do país, reclamou da superexposição do sagrado em nossa cultura. “Menos deus, por favor” foi o seu desabafo.1 É um alerta. Não é à toa que o segmento dos não-religiosos está entre os que mais cresceram na década de 90. Qualquer reflexão ou ação evangelizadora, transcultural ou não, deve levar em consideração as mudanças que estão acontecendo ao nosso redor e que afetam a todos nós, assim como as instituições, sejam elas eclesiásticas ou não, nas quais estamos envolvidos. Vivemos num mundo de extremas transformações, que afetam todos os aspectos da nossa existência. Temas como pós-modernidade e globalização podem não evocar sentimentos muito confortáveis. Mas não podemos ignorar os seus efeitos, se desejamos nos manter responsavelmente engajados no projeto de levar o evangelho até os confins da terra. A influência que este momento extraordinário exerce sobre o modo como vivemos, trabalhamos e comunicamos as Boas Novas de Jesus Cristo representa um desafio singular para a Igreja. Mais do que isso, está reestruturando a vida daqueles que pretendemos alcançar com o Evangelho, assim como as instituições formadoras de opinião.
Neste breve artigo não podemos deixar de fazer alguns registros que
sirvam de parâmetro para nossa reflexão sobre a evangelização. Partimos do pressuposto de que as forças da pós-modernidade e
globalização, por assim dizer, estão presentes na vida política, tecnológica,
cultural, econômica e religiosa; e essas forças afetam direta ou indiretamente
sistemas políticos, tradições, valores, formas de pensar e agir, gostos —
enfim, a vida da maior parte das pessoas. Essas forças afetam também as
instituições, sejam elas governamentais ou não, privadas ou religiosas. Desse
modo, no início deste novo milênio, a Igreja precisa repensar o seu papel e
reavaliar as suas práticas. Esta sensação de fragilidade que experimentamos é
também um reflexo da inadequação das instituições que, até o momento, serviram
de referência. Precisamos reconstruí-las a partir do resgate de parâmetros
encontrados nas Escrituras e na história da Igreja.
Quem é a pessoa que queremos impactar com as boas novas de Jesus Cristo, no início do terceiro milênio? Segundo um filósofo contemporâneo, “o
homem moderno é o que experimenta a sensação do estranho, não tem certezas
estabelecidas, apenas dúvidas”.2 A cada dia, somos levados a
conviver com novas tecnologias. Vivemos como nômades, exilados do único lar que
conhecíamos. Uma das características desta época é o não-pertencimento,
representado pelos “sem-lar”, a exemplo do filho pródigo, que, após ter saído
de casa, passou a viver “num lugar distante” (Lc 15.11-32).
A sociedade que adentra o terceiro milênio é cativa da visão pós-moderna
que nada vê além da fragmentação e que, como um barco sem rumo afirma a
“dissolução da totalidade, do grande relato, da
interpretação abrangente e histórica”. Como é a paisagem religiosa no início do
terceiro milênio? Ao contrário do que
foi apregoado pelos profetas da modernidade, as sociedades modernas não
decretaram o fim da religião mas viram surgir uma recomposição do campo
religioso. Longe do controle e tutela institucionais, abriram-se novos espaços
para a multiplicação de formas originais de crença. Por um lado, a religião é relegada a um lugar secundário na sociedade.
Por outro, cresce o interesse e a
demanda por temas e práticas de caráter espiritual, nas formas mais variadas e
diversas possíveis. Este processo — que acontece sem que possa ser
controlado pelas instituições religiosas legitimadoras das crenças — é
facilmente observado pela multiplicação de símbolos e discursos religiosos que formam
esse sincretismo religioso que vemos por toda parte. Num contexto fértil como este, em que testemunhamos diariamente a
emergência de formas inesperadas de sociabilidade religiosa, é preciso buscar e
explorar novos rumos que permitam que ações evangelizadoras criem raízes e se
concretizem de forma dinâmica.
Quaisquer esforços voltados para a Evangelização, seja numa conversa informal com alguém ou numa programação ou evento deve refletir uma atenção para esta
realidade, ou seja, para o fato de que a maior parte das pessoas, especialmente aquelas com um
grau maior de esclarecimento, não
valoriza ou têm interesse em saber se existe uma Verdade Absoluta. Essa geração não está procurando “a”
verdade. Ela está em busca do que é genuíno e autêntico. Longe de querer
prestar atenção em nosso discurso já trivializado e inócuo as pessoas apenas
querem saber e ver se a experiência cristã, seja em termos individuais ou
comunitários, é de fato real. As pessoas
hoje em dia não querem saber de gente que fique lhes dizendo o que elas têm de
acreditar ou aceitar como verdade. Aqueles que se apresentam de maneira
arrogante, como detentores da verdade são vistos de forma suspeita. O
envolvimento ou participação na comunidade (igreja) deve ser encorajado e visto
como essencial no processo de decisão de alguém que esteja considerando a Fé
cristã. A exposição pessoal e interação com grupos pequenos e eventos informais
devem ser estimuladas. Assim, o processo de conversão de um indivíduo é mais
influenciado pelas relações comunitárias do que por uma relação
“pessoa-a-pessoa” (o “evangelizador” e o “evangelizado”). As pessoas precisam poder observar e experimentar o amor de Jesus mais
do que receber informações sobre esse amor. Para isso é preciso haver
autenticidade no que falamos ou fazemos. Nossos esforços nessa área devem
priorizar a atuação de comunidades inclusivas, que recebam as pessoas e dar a
elas a oportunidade de observar, do seu próprio jeito, a realidade da Fé
cristã. Especialmente nos dias atuais a apresentação do Cristianismo não está
nessas pirotecnias “Gospel” que vemos por toda parte, “Marchas para Jesus” ou
programas de TV recheados de emotividade e clichês religiosos que não dizem
nada. De fato, o que temos observado é um número crescente de pessoas, dentre elas
muitos formadores de opinião, querendo distância de tudo e qualquer coisa que
“cheire a coisa de Evangélico ou Gospel”.
Há poucos dias,
um dos jornais de maior circulação do país trouxe uma importante matéria
sobre o processo de secularização da Europa. Dentre outras coisas o articulista
chama atenção para o testemunho de um jovem pintor checo e cantor de um grupo
de rock que costuma se apresentar em igrejas. Frustrado com o estado da igreja
presente em seu país, ele diz: “Jesus transformou água em vinho, mas os
cristãos o transformaram de novo em água.” Nossas atividades evangelizadoras só
terão efeito realmente duradouro se estiverem associadas a uma comunidade
acolhedora que alcança o necessitado, o aflito e também dá espaço para pessoas
que estão buscando uma experiência espiritual.
Precisamos pensar seriamente sobre isso e fazer de nossas igrejas estruturas menos constrangedoras que permitam
ao indivíduo, que esteja buscando e observando, permanecer sem se sentir
pressionado pelo ambiente. Aqueles que se interessam pela evangelização devem
prestar atenção ao cenário que se forma, no qual os atores são as ovelhas sem
pastor que estão sendo “tatuadas pelas complexidades” dos dias em que vivemos.
E, em dias como estes, devemos tomar todos os cuidados para que haja entre nós
motivo ou razão para que aqueles que nos observam venham a desdenhar de nós e
se distanciar dos caminhos de Deus.
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